quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Irati - Pequenas histórias III

A minha memória é a arquivo de que disponho para escrever sobre a história de Irati, pois não sou historiador, a pesquisa me ofereceria subsídios interessantes para escrever, mas não tenho a pretensão para tal empreitada, pois vivi em certa época, e a história de Irati, remontaria mais de um século, e acredito que haverão outros que detalhando os acontecimentos históricos, darão as dimensões de que precisão, todos aqueles que desejam saber sobre a história da Pérola do Sul.
Atenho-me então a memórias pessoais e por vezes lanço asas em momentos vividos por outros, interligados a minha própria história.
Pois bem, o carinho pelo Colégio São Vicente de Paulo, começou sem dúvidas muito antes do meu ingresso na instituição de ensino.
O caminho que saía do Bairro Alto da Glória e passava em frente ao Colégio foi interditada, por ser um terreno particular, até onde tenho conhecimento, mas esta era a passagem rápida para a Igreja Matriz, para o Bairro Gomes e para o acesso ao Bairro Stroparo e alto da Rua 19 de Dezembro.
De dois pontos de moradia tive em diferentes épocas acesso ao nosso querido Colégio, do Alto da glória quando ainda pequenino, e do alto da 19 de Dezembro mais tarde já adolescente.
Das incursões a partir do Alto da Glória, lembro de noites geladas de inverno, o céu com impecável manto estrelado, e a caminho do Colégio para as festas juninas, fogueira, pipoca, pinhão e outros quitutes próprios desta época.
As passagens em bandos de guris, na direção da cachoeira dos Gomes, uma deliciosa queda d‘água, com uma piscina esculpida nas pedras aos fundos daquele terreno, mas o tempo e o progresso não perdoaram a beleza daquele lugar, que hoje nada mais é que um filete de água negra e poluída, e quando o vi pela ultima vez, o nó na garganta, trouxe além da indignação, a certeza que aquilo que eu via era definitivo, e dei graças a Deus por tido aquelas águas límpidas sobre mim, e sobre a tagarelice do bando de meninos irrequietos.
O que eu via nessa época do educandário, eram os altos eucaliptos, os tijolos de 2 buracos na parte direita lateral de quem o olha de frente, essa era a visão que eu tinha e que foi suficiente para que a paixão pelo Colégio tivesse início, mais uma visão poética pelos seus traços, que conhecimento de arquitetura propriamente dita.
A ótica de tudo mais era barrada literalmente pelo Seo Horácio, um dos trabalhadores do Colégio, mas vez por outra incursões furtivas me faziam ver que havia uma piscina aos fundos e um lago mais adiante, onde contavam que havia ali falecido um padre da congregação. Demais histórias antigas ouvia do meu tio José Petchak, que vindo de São Roque - São Paulo, trabalhou com os padre, na sua vinda.
A parte interna e demais dependências só vim conhecer mais tarde já adolescente, quando meu caminho era inverso ao do Alto da Glória, vinha então do alto da 19 de Dezembro, passando pelos carreiros da mata dos Gomes, até o Colégio. A velha quadra d esportes ao lado interno do colégio, o salão para esportes em dias de chuva, a escadaria que que tantos jograis ofereceram aos meus olhos atentos de guri, as salas em cima e em baixo, por todas eu percorria, com curiosidade. A biblioteca, onde emprestava livros, e lí muito, era um rato de biblioteca, a secretaria sempre sob o olhar severo da Dona Terezinha, que ra ao mesmo tempo secretária e bedel do Colégio. A 7ª série que eu repeti, por um fato inusitado pra mim, repeti, porque só havia meninos na sala, e dessa passagem lembro da proeza que fiz de soltar o avião de papel por uma janela da sala e vê-lo entrar pela outra ao descrever uma curva no ar que me fez vibrar e guardar pra sempre a imagem, que apesar de proibida foi mágica e incontestável aos olhos de todos.
O professor Motta, professor de história, e suas dissertações sobre, mesopotâmia, peloponeso, e outras que me despertaram para o amor à história, que já havia nascido quando devorava velhos livros de meu irmão, que estudou no mesmo colégio e os tinha em casa.
Tenho o dever de consciência de mencionar Professor Mima, e quem era este professor?
Nada mais nada menos que José Maria Orreda, grande mestre, que através do silencio de seus atos me ensinou muito, quando lendo em minha camiseta a palavra cangussu, me disse ser este o nome da onça parda, aliás, eu tinha o costume de escrever nomes nas camisetas, que nem mesmo conhecia, um costume talvez para tirar um pouco do mesmo branco que todas elas tinham.
Do mesmo Orreda, a memória me traz as épicas lutas na Quadra do Ginásio de esporte com o handebol.
Era um torneio entre escolas, e representávamos o colégio, no meio da partida, de placar muito apertado, eu fui expulso, e no handebol se fica 2 minutos fora, mas eu na minha ingenuidade tinha certeza que o professor não ia mais me colocar no jogo, e tal foi minha surpresa terminado os dois minutos ele me retornou a quadra e ganhamos a final por diferença de um gol passei tempos matutando aquela atitude e por fim cheguei a conclusão de que o professor Mima, me deu o valor que não sabia que tinha e não soube dimensionar, que prazer eu tive em deduzir que fui uma peça importante no tabuleiro do Grande professor nesta pequena conquista.
Se Irati deve a sua memória hoje viva em todos os cantos, deve grande parte a Orreda, que descreveu sua gente, que valorizou a antiga arquitetura, que levou o nome de Irati em letras a todo recanto do nosso Brasil, Orreda é um ícone, uma referencia de cidadão que ama sua terra, que doou grande parte de seus dias à pesquisa para que a posteridade tivesse ao alcance dos olhos e da mão, a sua história, que se não fosse seu trabalho com certeza estaria em grande parte esquecida.
O meu carinhoso abraço a este amigo da minha terra, amigo que pelo esporte ensinou-me as motivações para que se procure norte para vencer, mesmo que este norte seja indicado por atos incompreensíveis no momento da vitória, mas que somente o tempo nos faça ver.
Obrigado Professor Mima.
De outra parte, o meu carinho não menos efusivo pelo professor Jacopetti, que junto a todos, os aficcionados pelo esporte viram nascer o campo de futebol do Colégio, a quadra nova, mais acima, mas também viram o colégio envelhecer sem os cuidados necessários, um descaso para o que é de todos.
Tomara que as ultimas imagens que eu vi do meu querido Colégio, tenham sido por causa do intervalo de férias, pois não se pode tratar a própria casa com pichações e desconsideração.
Você meu Colégio que viu tantas bandeiras serem levantadas, tantas instituições, como o Ginásio Irati, serem corroídos pelo tempo, tenha das futuras gerações, o cuidado necessário, para sempre fazer parte das imagens iratienses e que a exemplo de tantas outras obras arquitetônicas do passado, não tenham apenas um terreno baldio para serem lembrados.

Malgaxe

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