quarta-feira, 17 de agosto de 2011



À Irati - A terra mãe
Quem chegando a Irati vindo de Nhapindazal, sendo iratiense, ali nas cercanias do mato do Viana não se sentiu olhando uma aquarela pintada do seu próprio lar...?
Moldando a direita as frondosas arvores daquela centenária mata, guardou pelos anos mistérios em suas sombras, visto de longe, do alto da Rua XV de julho, de onde se via a moageira, o enfileirado de arvores da rua da estação, a rodoviária e aquela bonita casa na entrada do bairro canisianas, mais a direita se via o grupo Francisco Vieira de Araujo, o Mato do Viana, sombreando a entrada da cidade, majestoso e misterioso com suas araucárias centenárias, pássaros e frutas silvestres amarelando o chão, é inesquecível.
Como inesquecível é estando na "estratégica" (nome dado a Avenida que entra em irati, beirando o alto da glória), você ver lá à direita o morro da Santa, Nossa Senhora das graças. E de braços dados com os antigos muros e árvores do Francisco Vieira de Araújo, pousar os olhos, no vale que plantou Irati, e mais ao fundo a Igreja de São Miguel sob um céu azul que mais parece uma pequena tenda com estes bibelôs gigantes, marcas de nosso coração, das manhãs nevoentas, tardes escaldantes e noites de beleza única sob a lua crescente de fundo azul escuro e bordas avermelhadas da legendária Irati.
Embora o tempo que tenha apagado da geografia, os capões de mato do alto da glória, o deslizar barulhento de carrinhos de rolimã pilotados por sonhadores vestidos de alegria infantil na descida das pistas duplas da rodoviária, que tenha apagado a visão poética do bairro Isal, das Serrarias, que chamávamos de fabricas, embora os sons não nos tragam mais a sinfonia embriagada da boemia antiga de Irati, do compassado trotear dos cavalos do entregador de pães em charretes, embora tudo isso, a pérola do sul é ainda uma bela poesia retratada nas suas ruas calçadas, em uma ou outra araucária remanescente dos velhos tempos, em uma ou outra carroça saída dos túneis nublados e molhados das manhãs de inverno, nos rostos vermelhos polacos e ucranianos, no cheiro ocre dos cigarros de palha, em dentes amarelos e almas singulares dos filhos legítimos de Irati.
É uma viagem ao passado quando a teleobjetiva dos olhos abre para lembrar o infindável pergaminho que conta a história de cada cantinho deste lugar, a terra, tantas vezes poeira, pintou de si pezinhos barulhentos em busca de aventura no barreiro do Rio Bonito, na cachoeira, hoje morta, do Bairro Gomes, das caçadas de preá de tantas matas com seus vira-latas, nas manhãs de vadiagem infantil. O que os olhos guardaram com ternura a alma jamais esquecerá.
Haverá um dia em que a história relembrará Irati, tua vida e extinções, cantará então teus poetas, compensará a mágoa de ter tantas imagens perdidas para o progresso, ou esquecidas na trajetória de mais de 100 anos, quando algum de seus filhos sentir a ternura, e o poder de sedução, ao te olhar, e sentir saudade do antigo Ginásio Irati, de tuas ruas silenciosas, de tuas casas decoradas com a simplicidade artística dos lambrequins, dos portais da última passagem que leva para a eternidade, das igrejas onde perdas foram choradas e graças recebidas.
Há de em agradecimento a sua terra, muitos de seus filhos guardarem teus dias de alegria ou retidão, lembrarem os novos e antigos amigos, todos passageiros desta mesma nau que navega sua beleza em direção a eternidade, nunca haverá no coração de um verdadeiro iratiense uma mãe tão perfeita quanto a esta que todos chamam Pérola do Sul.

Edilson Souza



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