quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Grupo Escolar Francisco Vieira de Araujo

Acho que as vezes somos todos iguais,
somos a síntese de um tempo,
meninos, amigos, quintais,
e as alegrias que não voltam jamais,
resumem a felicidade de um momento.

E que bom hoje, aqui poder estar,
relembrando todos, nossos caminhos,
creiam, a gratidão fez aqui seu altar
e a prece ao antigo Grupo Escolar,
vem de todos em forma de carinho.

A lembrança restaura toda a emoção,
e ressurge então, um amarelo antigo,
um azul, um branco, e a velha senhora,
esta nossa escola, de ontem de agora,
é o berço perfeito do amor mais amigo.

Resumir esta longa e bela jornada,
é retocar a historia da nossa cidade.
É mesclar-se ela a vida de cada um,
seus bancos, suas flores, o lugar comum,
da ternura que se leva para a eternidade.

Por certo jamais dirá tudo uma poesia,
dos mestres, o esforço épico diário.
Da emoção de ter te conhecido um dia,
do silencio respeitoso de uma Ave Maria,
no momento de teu "...feliz Cinqüentenário".
 


Edilson Souza (Malgaxe)


 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011



Carruagens do tempo

Nestas carruagens do tempo se vôa,
e viajando, as vezes se chora, se ri,
é a saudade que na alma ecoa,
vozes e imagens, da antiga Irati!


A emoção silenciosa não segue vias,
onde a poeira não existe mais,
mas o romantismo, lembranças, poesias,
todas douradas, quais campanhas de trigais!


O vôo de pipas colorindo o entardecer,
as bidês dos meninos do alto da glória,
nada é mais justo à alma que retroceder,
e em silencio, reviver a sua história!


Não épica como a pioneira coragem,
apenas uma ave que passa no céu azul,
viajor que guarda de ti uma imagem,
mágica, como tudo é, na Pérola do Sul!


Irati é um vitral na catedral da vida,
jóia despeçada a iluminar caminhos,
da mão que afaga a ternura querida,
a saudade vestida de eternos carinhos!


Malgaxe


 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Irati - Pequenas histórias VI




Escola Francisco Vieira de Araujo
  

A fachada baixa, as inscrições com o nome da escola, o muro ondulado, os pinheirinhos no contorno do muro, esta foi a primeira visão que ficou gravada na minha memória, da escola Francisco Vieira de Araújo, e a mão que me levou sabia que eu reagiria com estranheza àquele mundo, por isso postou-se na porta da sala de aula até que eu me acostumasse aquela condição de prisioneiro a princípio involuntário do saber.
Na verdade a inserção de qualquer criança numa comunidade que não a sua é por assim dizer traumática senão assistida pelos pais nos primeiros dias, mas é uma fase passageira, e assim foi comigo, até que, inserido, pudesse rodear-me de amizades, carinho dos professores e até sentisse nas férias, uma imensa saudade daquele mundo tão inocente, mas de uma capacidade de formação de caráter inigualável.
O caminho percorrido, entre a escola e minha casa distava não mais que 1 kilometro, mas eu a via a qualquer hora em que meu olhar fosse direcionado para ela.
No contraste entre o azul ao longe e o verde escuro da mata emoldurava-se ela, não com majestade arquitetônica, mas dentro de mim com uma realeza venerável, eu silenciava ao vê-la e tal como pensei um dia quando criança, o carinho e gratidão jamais ficaram pelos caminhos.
E é com profundo respeito que relembro este todo, pois falar da escola é falar um pouco de todos os bairros que cercam a escola e principalmente do Alto da Glória, de seus meninos, de seu povo trabalhador, de suas alegrias e angustias, da formação da personalidade humilde e fraterna dos iratienses.
A escola Francisco Vieira de Araújo, era ainda uma criança nos finais da década de 60 início da de 70, do século passado, quando eu comecei a viver partes dos meus dias nela, e nestes 50 anos de história da querida escola a imagem que fica, é de reconhecimento e mesmo sem estar diante dela posso imaginar este alicerce como o da terra que alimenta a araucária até que ela se mostre frondosa e magnificamente forte o bastante para enfrentar as tempestades e com júbilo depois, possa cuidar de milhares de pássaros que se reproduzirão sobre sua existência, e para o homem reserve como ensinamento a humildade de que nas suas raízes e o que nela se fortaleceu é um bem inalienável que jamais deve ser esquecido, e repartido com seus semelhantes como fez o Senhor dos tempos.
Refaço mentalmente o caminho, o cascalho da Rua Duque de Caxias, André Filipack, antiga estratégica, até os portões da escola, pinto um quadro que não existe mais, e são utopias hoje, de uma realidade que eu vivi, os pés de cáqui no terreno baldio, o olho d‘água, a algazarra das crianças, a professora Aparecida, a professora Eva, a diretora Dirlene Marquardt,  eu achava este nome e a figura dela de uma elegância imponente, detalhes que o tempo não apaga que tem gosto de pirulito, de sopa no recreio, de saudade da madrinha Vina, do mais delicioso pastel que eu já provei, um presente da minha primeira professora, Aparecida, dos dias comemorativos, dos desfiles, da poesia recitada na escadaria, das figuras congeladas no tempo, é saudosismo sim, mas também é a vontade de expressar em letras um pouco do que representa esta escola na alma grata de um humilde cidadão e por certo de cada um que por ela passou e que tem a missão histórica, neste qüinquagésimo aniversário, de legar para o futuro o que foi para cada um e o que é para Irati esta nossa querida catedral do saber.

Malgaxe
      

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Irati - Pequenas histórias V



Procuro folhear a memória, e posicionar o sol numa daquelas manhãs dos anos 70, não atino a dificuldade, pois o brilho de então refletia no tapete verde do batatal gigante beirando a face leste do Alto da Glória, furtivamente eu pego uma folhinha de papel do bolso e rabisco a rampa gigante que ia da estratégica até os capões lá no alto, colados no laranjal e de ponto em ponto rabiscado vou construindo no papel a imagem que eu tenho na memória e o sol, e eu penso que ele também sentiu falta do velho pé de ipê roxo, da gente humilde colhendo as batatas, como uma legião de guerreiros surgidos na fumaça densa das tardes da antiga Irati, sob o olhar terno da mãe das Graças, quanto tudo deixou o branco e preto do antigo para compor a aquarela moderna que vem até nossos dias.
O que eu tinha apenas em pequenos resquícios no olhar quando criança agora surge a minha frente da tela do computador em uma fotografia antiga, a serraria Menemar, fazendo com que eu desenhe embaixo do meu rabisco um portal com improvisados traços ao qual eu chamei “a nossa Canudos”, pois verão a foto de Canudos e do bairro Menemar e apesar da semelhança ficar no aglomerado humano, o ar nostálgico remete qualquer um ao alvorecer da pérola do sul, e sem um que e nem porque vem uma saudade do que não conhecemos, quem o habitou e como foi extinto, ficando raros registros como este a povoar nossa imaginação.
O olhar pensativo nos faz viajar, e imaginamos um projetor de filmes, seguro pelas mãos históricas de João Wasilewski, vislumbramos o cadenciado exibir de slides esparramando a história em nossas saudades, o resgatável em matéria e o que o fatalismo da não existência atual relega a velhas fotos, e um olhar para a imagem no morro, nos consola de certa forma, ele sim viu o que nos faz sentir saudade, do que o progresso nos proibiu de ver.
Surpreendem-me o coração, o asfalto, as ruas calçadas não com o esmero antigo, mas um amontoado de pedras irregulares que apenas sepultam o chão, as valetas das tardes chuvosas, o passado, onde a pobreza seria motivo de dor, e o amor o pano azul que encobriu as mágoas, superando as dificuldades surgidas, e se os corações não se igualaram naqueles anos, o tempo os fez iguais, pois tudo a todos vem, e o caminho de todos é a eternidade igualitária e certa.
O que é a vida senão o que vivemos e o que recordamos.... Uma tarde de domingo subindo em turma até o laranjal, a farra da criançada que descia com os lábios ardendo de tanto chupar laranja, grátis e ao pé da planta, as noites de bate papo nas gramas dos jardins, as histórias de Pedro Malasartes, o rádio de pilha, o perfume da flor de laranjeira, a liberdade de voar em carrinho de madeira e não muito raro se espatifar no barranco de algum terreno baldio lá embaixo.
No plano em que vivíamos o nosso dia a dia, estava lá do outro lado a Santa do Morro, a esquerda, a direção do centro da cidade, ainda provinciana, a frente embaixo, algumas evidencias mais antigas, a fumaça das serrarias, atrás encima o verde das matas virgens e as assustadoras árvores gigantes dos capões escuros, e a direita o batatal, com seu imponente Ipê roxo na metade baixa... E ao fundo dele lá nos azuis distantes o inesquecível sol, o sol de meus rabiscos, antigo e belo, como um velho amor.

Edilson Souza

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Irati - 104 Anos

Nestas idas e vindas em que Irati avançou e recuou, o balanço para quem conheceu Irati na década de 60, 70 e pedaço da década de 80 do século passado sendo morador e filho, e depois como filho e assíduo visitante, posso dizer na minha humilde ótica que é positiva a visão sobre o desenvolvimento, que tenho hoje.
Parece que ela esta do tamanho que gostaríamos que tivesse, nem grande demais que escondesse na totalidade o que era e nem pequena que não pudéssemos nos orgulhar do seu progresso.
Refiro-me como saudosista às marcas do passado, Irati cresceu a olhos vistos, progresso? Não sei se na expectativa dos seus habitantes, mas pode-se dizer que não estagnou, talvez porque se trata de um centro regional, penso que cresceu, mas nem poderia dizer que pelo capital de fora empregado na cidade, mas como um esforço do povo local, que agregando valores a sua cultura e empreendimentos apostou na sua querida cidade e vê dar bons frutos numa Irati que caminha em direção ao futuro, e que por certo vai aproveitar o bonde da história, nivelando-se a outras cidades no que tange ao desenvolvimento e bem estar de seus cidadãos.
Mas voltando ao abstrato, porque geralmente o saudosista não diz muito sobre o atual, atendo suas observações ao que passou, mesmo porque acho que pelo que sei há muitos cronistas iratienses que desenrolam o dia a dia da pérola do sul, para as pessoas em blogs e sites, ficando a parte da memória a uns poucos “moicanos” , aos quais me junto para cumprir o que tomei como uma missão.
E nestes tempos em que Irati faz 104 anos, é sempre bom relembrar como era Irati aos que conheceram e apresentar a quem levará adiante os caminhos da pérola do sul a seus filhos e netos e para tanto me permitam instalar o “coreto” da história na praça da bandeira, sob o som de um antigo dobrado nos acordes imaginários de uma antiga “briosa” (banda de musica) iratiense, cujos integrantes viriam perfilados pela Munhoz e adentravam na Quintino em direção a praça arrepiando os corações com o Dobrado Batista de Melo, e para quem olhasse ali na esquina do correio, poderia ver ancorado em apenas um braço em uma pequena árvore em um nervoso discurso o senhor das madrugadas, Candinho Coruja, que primeiro, em mãos sobre o peito reza uma prece a seu jeito a Nossa Senhora das Graças, para depois então em altos brados desfilar impropérios a política local, e aos insistente pedidos na delegacia de policia local para que o proibissem de discursar em via publica... E antes que Coruja, terminasse seu discurso, parado do outro lado, o seu amigo “Carcaça”, agora sóbrio, via a briosa, iniciar com estilo o Dobrado Dois Corações em harmônica batida militar, cujo maestro agora descomposto deixava que observassem atrás dos óculos 2 lágrimas descerem em flagrante emoção, e antes que estacionassem seus meninos ao lado da praça, uma rodinha lá perto dos trilhos dos trens, ouvia atento mais uma historia de “Juvenal Mole”, para só depois darem-se conta de que Elias Harmuch da rádio ZYP2 de Irati, procurava no meio do povo, jogadores do time de football do Irati Sport Club, para uma entrevista antes do Match da tarde contra o fantasma de Ponta Grossa. Enquanto no coreto, os poetas Virgilio Moreira, Alzira Dembiski, Olga Zeni, Braulio Zarpelon, José Orreda e Foed Chamma, convidavam Silvio Ribeiro para que regesse a orquestra “briosa” no hino do Cinqüentenário de Irati que Silvio havia composto e que o povo faria o coro, e aquele dia teria sido tão brilhante que se entrassem todos em transe poderiam ouvir pela eternidade o Dobrado Saudades da Minha Terra, invadindo os momentos de dor ou de gloria da história de Irati, e por certo esta fantasia faria jus não aos sonhos que são abstratos, mas ao concreto amor pela sua terra que norteia a vida de cada iratiense.

Salve a pérola do sul, nos seus 104 anos.
Malgaxe

Ouçam: Dobrado Batista de Melo http://www.youtube.com/watch?v=Ovf4ZvNMWKI
Dobrado Dois Corações http://www.youtube.com/watch?v=QD4essdkAzI&feature=related
Dobrado Saudade da Minha Terra http://www.youtube.com/watch?v=4TM_c57KFds&feature=related


Pérola do Sul


Era minha linda namorada,
que se afastou em nostalgia,
sem foto em moldura dourada,
sem menção em minha poesia!

Ainda está muito distante,
mas vive nos aromas anoitecidos,
dos sonhos feitos avoantes,
nos românticos e belos dias idos!

Se fossem eternas as flores,
poderia rimar com minha amada,
mas é pouco a grandes amores,
a ternura, o carinho a vida doada!

Emana a cor marrom do antigo,
no perfume poético do seu mel,
este grande amor, inesquecível amigo,
é a terra, minha terra e seu céu!

Malgaxe

Irati


Quando o sol nascer amanhã,
quantos dias já terão partido,
gravando tempos que ficarão,
que muitos esquecerão,
como se nunca tivessem existido!

A poesia tem a pretensão sim,
de ser uma luz do passado,
não pra dizer onde pode estar,
mas para o caminho iluminar,
o que pela alma deve ser buscado!

Porque, o que de fato existe,
é um pedaço que do ontem ficou
Uma velha canção em várias cores,
uma história com milhares de atores,
um amor que com o tempo não mudou!

Isto a minha poesia quer dizer,
que nunca sepulte o fria construção,
as belezas da passada e bela irati,
as vidas, as vias, as flores que eu vi,
o carinho pelo sagrado chão!

Embora a tua geografia tenha mudado,
que teus caminhos não mudem jamais,
que teus filhos tenham sempre orgulho,
de lembrar em cada 15 de julho,
que Irati, ao iratiense é sempre mais!

Malgaxe

Irati - Pequenas histórias lV



Inspirado pelas histórias antigas, seguirei a descrição de alguns fatos, senão a altura de um historiador, de algum proveito para um pouco enriquecer nossa bela história, mesmo que com pequenos fragmentos.
Passear pelos barrentos barrancos do rio das antas, onde nos fundos do campo do Isal, mergulhávamos sem o medo necessário, longe dos olhos vigilantes dos pais.
Observar o lento deslocar da carroça do Ticão, morador nos pés do Alto da glória, e que fazia pequenos fretes para os vizinhos. Das perigosas incursões através de tubos de águas pluviais, feitos de cortes de pneus, amarrados em maços, que serviam na época de manilhamento, ninguém pensava em cobras e aranhas, era a brincadeira que valia, e só.
Viajar pelas noites da Radio Difusora, o programa do Santoro Neto, Coli e sua guitarra havaiana, Zé Tramela nas manhãs, Doca Leite e seu insistente instalar de um Tiro de Guerra em Irati, sonho não realizado pelo que sei.
A Marcha dos esportes, o noticiário do meio dia, ambos ao som de musicas americanas de derivação marcial, próprias de marchas militares.
O Cine Teatro Central do seu João Wasilevski, quando trocávamos rotulo do café Irati por entradas, os filmes de Far-west italiano, as musicas da velha musica italiana, as chanchadas nacionais, Mazzaropi. Perdoem-me esqueci o nome do bar em frente, ponto de reunião após as seções de cinema.
O bar do Colaço, e o Maluf onde se reunia a nata das cordas para encantar os visitantes.
Eram noites sem muitas opções, mas eram as nossas noites, do nosso tempo, e a memória se faz também do que viveram nossos pais, e nos passaram, e é exatamente este o objetivo destas singelas palavras.
Quem nunca ouviu falar da casa Choma, da Casa Nova, da Realeza, do Glinskinho e da lanchonete do Glinskão, quanta cervejas, quanta gente fazia daquele lugar um point,
ops, point é moderno mas era sim o ponto de encontro.
Os antigos Coches fúnebres, quantos amigos subiram a ladeira para ir descansar no alto, ao lado da igreja São Miguel, olhando de cima sua eterna cidade.
Os carros de praça, as viagens intermináveis até Guarapuava, Ponta Grossa, União da Vitória, a sinistra Serra da Esperança que tantos iratienses devolveu aos seus, para a ultima despedida.
Aos que viram ainda o Hospital de Caridade de Irati, lembrem, lembrem de Dona Pierina a parteira que trouxe ao mundo tantos iratienses, ao Vico, farmacêutico e ao mesmo tempo, médico dos mais pobres, da antiga Ford, dos meninos do Seminário Seráfico Santa Maria, que davam espetáculos em desfiles de Sete de setembro, dos discursos inflamados de Edgar Gomes, o prefeito da Arena dos tempos da ferrenha ditadura, que a nossa ingenuidade e distancia dos grandes centros não permitiu conhecer.
Irati é e sempre será aquilo que seus cidadãos, guardaram e guardarão na lembrança, pois nada é mais contundente e esclarecedor, que ouvir de um povo a própria história, pois há detalhes, que as fotografias antigas não mostram que parcos recursos de filmagens omitem e que modernas mídias, não poderão alcançar e que só o humilde relato de um cidadão pode esclarecer e ajudar a iluminar a posteridade.
Malgaxe

Irati - Pequenas histórias III

A minha memória é a arquivo de que disponho para escrever sobre a história de Irati, pois não sou historiador, a pesquisa me ofereceria subsídios interessantes para escrever, mas não tenho a pretensão para tal empreitada, pois vivi em certa época, e a história de Irati, remontaria mais de um século, e acredito que haverão outros que detalhando os acontecimentos históricos, darão as dimensões de que precisão, todos aqueles que desejam saber sobre a história da Pérola do Sul.
Atenho-me então a memórias pessoais e por vezes lanço asas em momentos vividos por outros, interligados a minha própria história.
Pois bem, o carinho pelo Colégio São Vicente de Paulo, começou sem dúvidas muito antes do meu ingresso na instituição de ensino.
O caminho que saía do Bairro Alto da Glória e passava em frente ao Colégio foi interditada, por ser um terreno particular, até onde tenho conhecimento, mas esta era a passagem rápida para a Igreja Matriz, para o Bairro Gomes e para o acesso ao Bairro Stroparo e alto da Rua 19 de Dezembro.
De dois pontos de moradia tive em diferentes épocas acesso ao nosso querido Colégio, do Alto da glória quando ainda pequenino, e do alto da 19 de Dezembro mais tarde já adolescente.
Das incursões a partir do Alto da Glória, lembro de noites geladas de inverno, o céu com impecável manto estrelado, e a caminho do Colégio para as festas juninas, fogueira, pipoca, pinhão e outros quitutes próprios desta época.
As passagens em bandos de guris, na direção da cachoeira dos Gomes, uma deliciosa queda d‘água, com uma piscina esculpida nas pedras aos fundos daquele terreno, mas o tempo e o progresso não perdoaram a beleza daquele lugar, que hoje nada mais é que um filete de água negra e poluída, e quando o vi pela ultima vez, o nó na garganta, trouxe além da indignação, a certeza que aquilo que eu via era definitivo, e dei graças a Deus por tido aquelas águas límpidas sobre mim, e sobre a tagarelice do bando de meninos irrequietos.
O que eu via nessa época do educandário, eram os altos eucaliptos, os tijolos de 2 buracos na parte direita lateral de quem o olha de frente, essa era a visão que eu tinha e que foi suficiente para que a paixão pelo Colégio tivesse início, mais uma visão poética pelos seus traços, que conhecimento de arquitetura propriamente dita.
A ótica de tudo mais era barrada literalmente pelo Seo Horácio, um dos trabalhadores do Colégio, mas vez por outra incursões furtivas me faziam ver que havia uma piscina aos fundos e um lago mais adiante, onde contavam que havia ali falecido um padre da congregação. Demais histórias antigas ouvia do meu tio José Petchak, que vindo de São Roque - São Paulo, trabalhou com os padre, na sua vinda.
A parte interna e demais dependências só vim conhecer mais tarde já adolescente, quando meu caminho era inverso ao do Alto da Glória, vinha então do alto da 19 de Dezembro, passando pelos carreiros da mata dos Gomes, até o Colégio. A velha quadra d esportes ao lado interno do colégio, o salão para esportes em dias de chuva, a escadaria que que tantos jograis ofereceram aos meus olhos atentos de guri, as salas em cima e em baixo, por todas eu percorria, com curiosidade. A biblioteca, onde emprestava livros, e lí muito, era um rato de biblioteca, a secretaria sempre sob o olhar severo da Dona Terezinha, que ra ao mesmo tempo secretária e bedel do Colégio. A 7ª série que eu repeti, por um fato inusitado pra mim, repeti, porque só havia meninos na sala, e dessa passagem lembro da proeza que fiz de soltar o avião de papel por uma janela da sala e vê-lo entrar pela outra ao descrever uma curva no ar que me fez vibrar e guardar pra sempre a imagem, que apesar de proibida foi mágica e incontestável aos olhos de todos.
O professor Motta, professor de história, e suas dissertações sobre, mesopotâmia, peloponeso, e outras que me despertaram para o amor à história, que já havia nascido quando devorava velhos livros de meu irmão, que estudou no mesmo colégio e os tinha em casa.
Tenho o dever de consciência de mencionar Professor Mima, e quem era este professor?
Nada mais nada menos que José Maria Orreda, grande mestre, que através do silencio de seus atos me ensinou muito, quando lendo em minha camiseta a palavra cangussu, me disse ser este o nome da onça parda, aliás, eu tinha o costume de escrever nomes nas camisetas, que nem mesmo conhecia, um costume talvez para tirar um pouco do mesmo branco que todas elas tinham.
Do mesmo Orreda, a memória me traz as épicas lutas na Quadra do Ginásio de esporte com o handebol.
Era um torneio entre escolas, e representávamos o colégio, no meio da partida, de placar muito apertado, eu fui expulso, e no handebol se fica 2 minutos fora, mas eu na minha ingenuidade tinha certeza que o professor não ia mais me colocar no jogo, e tal foi minha surpresa terminado os dois minutos ele me retornou a quadra e ganhamos a final por diferença de um gol passei tempos matutando aquela atitude e por fim cheguei a conclusão de que o professor Mima, me deu o valor que não sabia que tinha e não soube dimensionar, que prazer eu tive em deduzir que fui uma peça importante no tabuleiro do Grande professor nesta pequena conquista.
Se Irati deve a sua memória hoje viva em todos os cantos, deve grande parte a Orreda, que descreveu sua gente, que valorizou a antiga arquitetura, que levou o nome de Irati em letras a todo recanto do nosso Brasil, Orreda é um ícone, uma referencia de cidadão que ama sua terra, que doou grande parte de seus dias à pesquisa para que a posteridade tivesse ao alcance dos olhos e da mão, a sua história, que se não fosse seu trabalho com certeza estaria em grande parte esquecida.
O meu carinhoso abraço a este amigo da minha terra, amigo que pelo esporte ensinou-me as motivações para que se procure norte para vencer, mesmo que este norte seja indicado por atos incompreensíveis no momento da vitória, mas que somente o tempo nos faça ver.
Obrigado Professor Mima.
De outra parte, o meu carinho não menos efusivo pelo professor Jacopetti, que junto a todos, os aficcionados pelo esporte viram nascer o campo de futebol do Colégio, a quadra nova, mais acima, mas também viram o colégio envelhecer sem os cuidados necessários, um descaso para o que é de todos.
Tomara que as ultimas imagens que eu vi do meu querido Colégio, tenham sido por causa do intervalo de férias, pois não se pode tratar a própria casa com pichações e desconsideração.
Você meu Colégio que viu tantas bandeiras serem levantadas, tantas instituições, como o Ginásio Irati, serem corroídos pelo tempo, tenha das futuras gerações, o cuidado necessário, para sempre fazer parte das imagens iratienses e que a exemplo de tantas outras obras arquitetônicas do passado, não tenham apenas um terreno baldio para serem lembrados.

Malgaxe

Irati - Pequenas histórias II


É natural que passando grande parte da minha vida no Bairro Alto da Glória as lembranças deste me sejam mais nítidas, me coloco agora num barranco imaginário, no alto do bairro e vejo num dia de chuva as brincadeiras nas enxurradas que enchiam as valetas onde perigosamente brincávamos, na barrenta água vinda do alto, os raros carros que tentavam subir deslizando incontinente para os lados. Ainda ali olho para traz e lembro dos matos onde caçávamos e brincávamos de esconder, ao pé de uma grande árvore que vi durante toda a infância e que a exemplo do velho ipê, foi ceifado pra dar lugar a residências, mas este lugar guarda na memória de muitos, o campinho de futebol que fazia a festa da garotada nas manhãs de domingo.
O olhar rodeia e vê logo acima o bar que foi de meu tio José Petchak, e de outros, mas nunca foi ponto mais apreciado que o bar do Stein logo abaixo e do Aleixo mais a direta deste.
Quantas vezes a caminho da escola, parávamos no Olhinho, uma bica d‘água, no começo da estratégica, que nada mais era que um prolongamento da Rua Benjamim Constant, a água era límpida e potável, hoje já não existe mais.
Olhando a poucos metros a casa de Seo Raul era a que mais se destacava, porque fora construída comprida, diferente do padrão da época, e logo ao lado a nossa casa, pequena, humilde, sempre caiada aos finais de ano, um longo terreno que tinha a frente ampla e do mesmo tamanho na parte de trás, com macieira, laranjeiras e pereiras, no quintal quase sempre era plantado milho, em cujas sombras brincávamos. As noites eram iluminadas por lampiões de querosene comprado no posto do Mosele, onde meu pai trabalhava.
Vislumbro em minhas memórias o ar pesado de Agosto, com a fumaça das empresas madeireiras e o calor insuportável que adentrava nas noites, noites que não passavam das 10 horas, pois diziam ser altas horas, horas mortas e que lobisomens e bois-tata apareciam para quem não estivesse protegido pelas paredes de sua casa.
Ao longe com o olhar que pressentia a saudade futura, eu olhei muitas vezes a veneziana fixa, dos barracões que beiravam a via férrea, a Casa Brasil, a Maria fumaça, soltando fumaça aqui e acolá, na velha RFFSA, e uma linda casa na entrada do bairro Canisianas, pela rua das Industrias Santos Aleixo,ISAL.
Fora da minha vista, me imaginando naqueles tempos, o bar do Ambrósio, parada obrigatória de quem desembarcava na estação, e de velhos boêmios, como o Candinho Coruja, como Angelo de Souza, meu pai, beberrão inveterado e de seu irmão Carcaça, que parou de beber e morreu aos 65 anos, enquanto seu irmão foi embora aos 44 anos, saudosa memória, meu pai.
O hotel pequenino e antigo em frente a estação, eu ainda tive, não sei se prazer, ou desprazer de vê-lo em ruínas, e tal qual o Hotel da Senhorinha, desapareceram para dar lugar ao progresso.
O progresso ceifa a história material das coisas, mas nunca ceifará a memória que o coração guardará para a eternidade.
Um fato que me marcou a infância foi uma figura de anjo em forma de professora, Professora Aparecida.
Sempre fui tímido, e me vendo assim, no recreio da escola, ela me deu um pastel, sabia ela que éramos humildes e jamais eu poderia comer um pastel na escola, então o mimo, mas o que ela não sabia, é que este ato, marcou toda a minha vida, como exemplo de ternura e respeito aos mais humildes.
Aliás, este ato e a vida de Dona Júlia minha mãe nortearam minha existência, pelo exemplo de solidariedade, de ferrenha resistência aos ditames dos que querem se sobrepor pelo poder, e o mais importante, ter a coragem de estender à mão para quem tem esta como a unica esperança de se reerguer.
Não poderia, deixar de citar os natais no jardim da tia Élia, a árvore iluminada, a reunião de todos os parentes, as fotos, hoje amareladas, mas que contam sobre um tempo que trás saudade. O cheiro inconfundível da flor de laranjeira, na casa da vó Angélica nas noites de visita, o radio, os pelegos, um vermelho e outro branco que estendíamos na grama em frente a sua velha casa.
Para finalizar este capitulo, meu olhar e meu coração pousam sobre a imagem de Nossa Senhora das Graças, no morro da santa, como é chamado, as suas eternas bênçãos minha santa, que viu minha infância passar.

Edilson Souza

Irati - Pequenas histórias l



A cada lembrança, remontados ficam os momentos fragmentados em nosso pensamento, não há datas a citar, apenas vislumbres de épocas passadas da infância e adolescência.
Por exemplo, lembro da recém inaugurada rodoviária, quando se faziam treinamentos de kart em suas vias, onde em nossos carrinhos de rolimã, imitávamos os karts, rua Dona Noca abaixo, do Grupo Francisco V. de Araújo até a Rodoviária, eram tempos de poucos carros e aos sábados a tarde tinha espaço para nossas aventuras automobilísticas, entre a passagem de um carro e outro.
Uma coisa ficou gravada, a presença da PM com seus capacetes brancos, a impedir, kartistas e nós de usar aquelas vias, eles sempre tinham que esta com a razão por motivos óbvios.
Um olhar daquele ponto para o alto da glória, víamos as imponentes palmeiras em frente ao bar do Stein, o casario de madeira, e o marrom da terra das ruas, pela rua Alexandre Pavelski, no seu prolongamento, que afinava lá em cima existia ou existe um laranjal, tão famoso entre os moradores, como os capões, que pontilhavam plantações de milho e batata.
Quantas vezes o Seo Raul Medeiros de Lima, Gerente do Dalegrave Moreira, nos forneceu as rodas para os carrinhos que construíamos para a aventura de cruzar 3 quadras, ladeira abaixo, e parar, geralmente no cruzamento da Duque de Caxias com Alexandre Pavelski, não raro havia um esfolado ou quebrado ao final destas aventuras.
Como se ainda estivéssemos na Rodoviária, e olhássemos para a esquerda do bairro, o batatal acompanhou toda a nossa infância, por muitos anos foi cultivado, com milho e batata, e nos seus últimos anos, ficou entregue a capoeira, até ser loteado, o que marcou pra mim no batatal, foi um pé de ipê roxo, na metade baixa do terreno, onde muitos iam buscar casca para fazer remédio, e anos mais tarde foi derrubado para dar lugar a ruas e casas.
Em cada direção que se olha em Irati, flui a história senão aprofundada, com memória familiar a muitos dos iratienses.
Muitos relembrarão dos domingos na esquina preferida do Alto da Glória, a Alexandre Pavelski com João Maria Anciutti, não sei, se estes são ainda os nomes das ruas, mas os que viveram estes momentos descritos lembrarão.
Ao hipoteticamente pisar o solo iratiense nas proximidades da rodoviária, lembrei que ali era o antigo bairro Menemar, mas um outro texto contará sobre ele.

Malgaxe

Poeta...



Rebento do preto e branco,
que o incólume céu poeta levou...
Sem despir-te do doce do vale do mel,
foste uma lira ao vento
vararam tuas mãos com letras
tocadas por mil lembranças desbravadas.
Buscadas, guardadas, expostas
à alma pra esverdear o caminho
ou pincelar dourado às veredas de Irati...
Ter no silêncio a trajetória,
delineando a glória na própria alma,
para alimentar-se, sem dar-se a notar...
Que gigante é, iratiense sempre será...
Quantas lembraria ele,
quem um poeta exalta e lembra?
Quem dera as flores fossem as mesmas,
o fervilhar místico do cantar também...
Gerações nos separam...E agora
a eternidade é a estrofe que faltava
a tua poesia, mas é cedo para este
sem estar diante de ti, entoar...
O desterro do chão natal...
São outonos perdidos no caminho,
amores deixados às estrelas,
uma saudade ao ver tantas primaveras,
pousarem sobre outras poesias...
Entoo então a ti minhas letras, poeta,
ramo da tua, que me é permitido
assim pensar, porque sou o que
é meu coração, e eras tu ao legar-nos
a ti, para nós e para a nossa querida Irati!

Malgaxe
"Aos que não viram, vejam, aos que não quiseram ver a poesia de Foed, perderam a grande oportunidade na existência de conhecer a luminosidade de alguém que se assemelhou a sua própria poesia, felizmente foram poucos estes, e muitas foram as almas que compreenderam a mística poesia que fluía da sua alma."

http://66.228.120.252/audios/poesias/37266

Edilson de Souza (Malgaxe)

Irati - A pérola do sul



Onde andarão as minhas águas,
que passearam silenciosas,
em veredas que não existem mais...
o barreiro do rio bonito,
as mansas águas do rebesco,
nas manhãs de um tempo distante,
ia pescar carás na cachoeira,
que o alcatrão letal extinguiu,
ao nascer no carvão que já era extinção...
De alguma floresta ao redor, que foi nossa...
Que foi de tanta gente, que te ama Irati!
A de estar nas memórias de muitos,
quando virem as grimpas no chão,
quantos pinheirais tinha a nossa terra...
O passado não é um vício,
que muito poucos devem cultivar,
é como um belo café das três,
que desde pequenos aprendemos a gostar.

Os lambaris do bituvão,
abundantes e brilhantes um dia,
resumem-se a mutantes da poluição,
clara, explícita e triste covardia,
não que o progresso não seja necessário,
mas quem poderia nas antigas ave marias,
supor que lá do alto campanário,
nossa matriz pudesse ver um dia,
irem embora tão caras e felizes alegrias?
Quem pensa que tudo isso é tempo perdido,
não ama seu querido chão,
esquece aqui ter nascido,
pois no presente vive esquecido,
e que sol primeiro, teve a sua visão!

Quem um dia não viu o Plaza Hotel,
a caminho da praça em noite de Noel,
O Xerifado em ação, O Sanhaço da vila São João,
O Atlético Iratiense, rival do antigo Azulão,
Quem não foi ao Rio Bonito,
Ver o nosso bugre daqui,
era uma bela equipe aquela,
o orgulhoso e guerreiro Guarani!
Quem não viu o Candinho nas madrugadas,
cantando serenatas para a lua,
são tantas e belas as pegadas,
olhando o tempo e as histórias de cada rua!

Quem nunca foi a um bingo de festa,
da São Miguel ou da Matriz,
na festa dos ucranianos um dia,
na perpétuo socorro, onde era o olaria,
quem não foi ao pé da Santa rezar,
pedindo aos céus carinho e proteção,
quantos sofreram para a ladeira vencer,
não pedindo mais do que pudesse merecer,
mas apenas forças para ter um pedaço de pão.

O passado merece culto e reverência,
e não é dor ou penitência,
um pequeno carinho demonstrar,
ao condenar a degradação da natureza,
ao reconhecer a bela e flagrante beleza,
do belo passado, da tua gente lembrar!
Malgaxe




IRATI - O vale do mel


Há coisas que nunca saem do nosso coração, e só quando os anos passam é que nos damos conta que estas coisas estão tatuadas no mais fundo da alma que embora o tempo, elas jamais se extinguirão.
É como acordar pela manhã, abrir a janela e ver que a banquinha de revistas de madeira na esquina da Munhoz/XV de Novembro, não existe mais, e Tex, Batman e Tarzan, ainda existem e os vemos ao cruzar as portas da velha banquinha.
É como se ao passarmos o olhar lá no alto da 19 de Dezembro, víssemos o vazio de uma fábrica dos Gomes, sem fumaça, sem operários, sem nostalgia, mas viva no apito que os anos de nossa infância imortalizaram na nossa memória. É como ligar o rádio e ouvir a voz grave de Doca Leite, a maviosa de Santoro Neto, tantos dias nos acompanharam estas vozes que fica difícil esquecer e em flashes, revivemos a partida de amigos desta vida em notas fúnebres, vozes que traziam a alegria e a tristeza para que nossas almas jamais esquecessem deles, e não esqueceram.
Ou então acordar de um pequeno sono vespertino, e sair a andar por ruas asfaltadas, quando os pés estavam acostumados aos reluzentes paralelepípedos centenários, hoje sepultadas, longe dos sonhos preservacionistas de um antigo professor, que ousou servir de referência para a memória de Irati, e que Deus não nos prive de seus saberes, nem de seus sonhos, sonhos como este que a luz do progresso não permitiu, por ser este, um sonho em preto e branco, portanto, inadmissível em nossos dias.
Haverá muitos rostos a destacarem teu semblante atual, Irati, mas poucos para guardarem a tua memória, e terem a coragem de sentirem a saudade, própria dos que amam.
Todas estas lembranças, e muitas outras, que temos, mas que a fisionomia e a geografia da cidade esconderam, moram onde só a eternidade pode tirar, e assim sempre a veremos, nós, os saudosistas.
Vivam as suas épocas, jovens, que num futuro longínquo, olharão por onde passaram, e como nós, terão saudade de tudo e verão extinguir-se o que lhes acompanhou pela vida, pois jazerão na geografia e fisionomia da cidade, para viverem eternamente em vossos corações!

Obs. ”Irati, fica num vale, ao pé de imagem de Nossa Senhora das Graças, costumo chamá-la de Nossa Senhora das Graças de Irati, pois do alto abençoa toda a gente”. A padroeira de Irati é Nossa Senhora da Luz.
Malgaxe


À Irati - A terra mãe
Quem chegando a Irati vindo de Nhapindazal, sendo iratiense, ali nas cercanias do mato do Viana não se sentiu olhando uma aquarela pintada do seu próprio lar...?
Moldando a direita as frondosas arvores daquela centenária mata, guardou pelos anos mistérios em suas sombras, visto de longe, do alto da Rua XV de julho, de onde se via a moageira, o enfileirado de arvores da rua da estação, a rodoviária e aquela bonita casa na entrada do bairro canisianas, mais a direita se via o grupo Francisco Vieira de Araujo, o Mato do Viana, sombreando a entrada da cidade, majestoso e misterioso com suas araucárias centenárias, pássaros e frutas silvestres amarelando o chão, é inesquecível.
Como inesquecível é estando na "estratégica" (nome dado a Avenida que entra em irati, beirando o alto da glória), você ver lá à direita o morro da Santa, Nossa Senhora das graças. E de braços dados com os antigos muros e árvores do Francisco Vieira de Araújo, pousar os olhos, no vale que plantou Irati, e mais ao fundo a Igreja de São Miguel sob um céu azul que mais parece uma pequena tenda com estes bibelôs gigantes, marcas de nosso coração, das manhãs nevoentas, tardes escaldantes e noites de beleza única sob a lua crescente de fundo azul escuro e bordas avermelhadas da legendária Irati.
Embora o tempo que tenha apagado da geografia, os capões de mato do alto da glória, o deslizar barulhento de carrinhos de rolimã pilotados por sonhadores vestidos de alegria infantil na descida das pistas duplas da rodoviária, que tenha apagado a visão poética do bairro Isal, das Serrarias, que chamávamos de fabricas, embora os sons não nos tragam mais a sinfonia embriagada da boemia antiga de Irati, do compassado trotear dos cavalos do entregador de pães em charretes, embora tudo isso, a pérola do sul é ainda uma bela poesia retratada nas suas ruas calçadas, em uma ou outra araucária remanescente dos velhos tempos, em uma ou outra carroça saída dos túneis nublados e molhados das manhãs de inverno, nos rostos vermelhos polacos e ucranianos, no cheiro ocre dos cigarros de palha, em dentes amarelos e almas singulares dos filhos legítimos de Irati.
É uma viagem ao passado quando a teleobjetiva dos olhos abre para lembrar o infindável pergaminho que conta a história de cada cantinho deste lugar, a terra, tantas vezes poeira, pintou de si pezinhos barulhentos em busca de aventura no barreiro do Rio Bonito, na cachoeira, hoje morta, do Bairro Gomes, das caçadas de preá de tantas matas com seus vira-latas, nas manhãs de vadiagem infantil. O que os olhos guardaram com ternura a alma jamais esquecerá.
Haverá um dia em que a história relembrará Irati, tua vida e extinções, cantará então teus poetas, compensará a mágoa de ter tantas imagens perdidas para o progresso, ou esquecidas na trajetória de mais de 100 anos, quando algum de seus filhos sentir a ternura, e o poder de sedução, ao te olhar, e sentir saudade do antigo Ginásio Irati, de tuas ruas silenciosas, de tuas casas decoradas com a simplicidade artística dos lambrequins, dos portais da última passagem que leva para a eternidade, das igrejas onde perdas foram choradas e graças recebidas.
Há de em agradecimento a sua terra, muitos de seus filhos guardarem teus dias de alegria ou retidão, lembrarem os novos e antigos amigos, todos passageiros desta mesma nau que navega sua beleza em direção a eternidade, nunca haverá no coração de um verdadeiro iratiense uma mãe tão perfeita quanto a esta que todos chamam Pérola do Sul.

Edilson Souza



Pérola do Sul




 É o incenso que queima na alma,
isto a quem chamam felicidade,
é o risonho da noite fria e calma,
embora o inverno de alguma vaidade!

Entrega-se ao que vem como o minuano,
o poeta que sente o sulista e frio céu azul,
e diz como é meu teu amor que reclamo,
nestas paragens das terras do nosso sul!

É um amor diferente que esquenta os dias,
e não há quem não receba este carinho,
é um eu ti amo que resplandece alegrias,
no branco do gelo espalhado no caminho!

E virá de vozes roucas do tempo além,
exemplos de como se deva a terra amar,
que do chão que se pisa, sempre vem,
o enlace de carinho que nos faz ficar.

Edilson Souza

Do Meu Morro...


 


... Eu vejo a noite
cobrindo o sol
Enegrida vida ...

... Eu vejo o vento
que sai arrastando
O apelo da mãe sentida...

... Vejo o leite
o sonho de um tempo presente...
o sonho de um tempo amado...

... Vejo a bengala
Pesadelo de um tempo passado
pesadelo de um tempo calado...

... Vejo a virgem
que o mundo prostituiu
que o mundo renegou...

... Vejo o cavalo puxando o carro
vejo o carro puxando o cavalo
o destino que se marcou...

... vejo os olhos vermelhos
da fumaça que sai da chaminé
vejo os olhos vermelhos
do sangue absorvendo a heroína...
... vejo a luta: sobrevivência
batalha empatada
Tudo, tudo, tudo,
vejo aqui de cima... 


 Silvana Maria Petchak Gomes

Veredas da Pérola do Sul






Quantos quintais terá a minha terra..
E lembranças sujas de terra haverá em cada coração sob teu azulado céu...?
Cheirando a barro de pelotes, refestelando-se nas manhãs frias
quantos meninos envelhecidos haverá ruminando os dias no ar quente de fogões a lenha...?
Quem sabe corram... Ou em propositais demoras vão-se para os ternos caminhos do São Vicente, pelos carreiros do mato dos Gomes, a somar dias às futuras lembranças... Ah! Deus... Eu me vejo ali, como um beduíno ainda sem caminhos definidos na vida, vagando olhares para tantas direções, sim, eu e a tantos nos vejo ali, naquele cantinho da memória, transpondo “quebra corpos” na descida em campo verde.
Nesta imensa enciclopédia em que a fantasia me apresenta os azuis de Irati, em quantos quintais desdobrou-se semelhante a minha, uma história...?
Ou em ruas de paralelepípedos perfeitos, ou na aquarela da Serra dos( ou das?) Nogueiras, que olharam, registraram e tornaram inesquecíveis todos os meus dias, e ainda os tenho como num interminável filme, e assim de muitos como eu que não se permitem te esquecer, Irati.
Detalhes, que só o amor pode recriar nos momentos de retorno aos antigos dias, e expor quem sabe uma lágrima, ou um sorriso com um olhar de pena por tudo que ficou, não basta relembrar há que sempre se dizer a alma, eu estive entre os pinheirais do mato do Viana, tive medo do Seo Leonel, colhi agrião na rua Duque de Caxias, deslizando meus pés descalços da empoeirada rua até o riozinho ao lado, perigo? Não haveria perigo fosse qual fosse a aventura, pois esta era a saga que teria que ser desenrolada em nosso chão, estava escrito em nossos avôs, eles vieram do passado e nós assim seriamos no futuro, assim como ouvíamos, contaríamos nossas historias, e as temos meu Deus, tivemos a oportunidade divina de por nossas páginas no grande livro que se chama Irati.
Cada um a seu jeito, te viu Pérola do Sul...
Te vi graciosa nas casas com lambrequins, ou cravejadas de pedras em desenhos lhes dando um ar que fantasia, a romântica graça de suas praças, ou a memória forçando um renascer de prédios, e geografias que não existiam mais, o hotel em frente a antiga estação de trens, o ginásio Irati, o modelo “canudos” do nosso bairro Menemar, alí onde é a rodoviária, e a vagar sobre tudo a figura estranha da “Ervira”, velha conhecida da minha avó Angélica, ilustre figura do bairro Alto da Glória. “Ervira” moradora de uma das casas atrás do bar do Stein era um misto de historia e mistério com seus cabelos longos e desarrumados, visita frequente em casa da vó Angélica, que não ultrapassou a década de 70, levando para a eternidade sua simpatia e sorriso meigo. “Ervira”? Não sei como terminou sua vida, é uma lembrança que existe tal como a via há 40 anos.
E tal qual a fachada da Matriz Nossa senha da Luz, no final da subida da rua em frente, depois praça, da Matriz São Miguel expoente no “centro da foto” de Irati, o Colégio São Vicente, Nossa Senhora no Morro, guardo as lembranças de Irati, como se eu abrisse uma caixa de fotografias e me visse ao lado de cada uma, eternizado também, e feliz por ter tido a oportunidade, assim em vida de declarar o meu amor irrestrito pelo lugar onde nasci.
São tantos os personagens que relaciono a Irati, que a vida me seria pouco para tudo e todos, lembrar, e dizer, mas que farei, por certo enquanto viver, menção de tudo que é preciso lembrar.

Malgaxe




História - A coluna Prestes em Irati



Fotografia com uma parte dos integrantes da Coluna Prestes.


Hino Revolucionário Avante Camaradas
Letra e música: Antonio Manoel do Espírito Santo

Avante, camaradas!
Ao tremular do nosso pendão
Vençamos as invernadas
Com fé suprema no coração.
Avante sem receio
Que em todos nós a Pátria confia
Marchemos com alegria, avante!
Marchemos sem receio.

Aqui não há quem nos detenha
E nem quem turve a nossa galhardia.
Quem nobre missão desempenha
Temer não pode a tirania, a tirania

E nunca seremos vencidos
Porque marchamos sob a luz da crença.

Marchemos sempre convencidos
Não há denodo que nos vença

Avante, camaradas!
Ao tremular do nosso pendão
Vençamos as invernadas
Com fé suprema no coração
Avante sem receio
Que em todos nós a Pátria confia
Marchemos com alegria, avante!
Marchemos sem receio

Havemos sempre audazes
A afrontar o perigo;
E seremos perspicazes
Ante o mais férreo inimigo.

Por isso, não tememos:
Sempre fortes e sobranceiros,
E com bravura sempre lutaremos;
Brasileiros nós somos,
Nós somos brasileiros!

linck: http://clientes.interconect.com.br/pontes/Blog/avante.htm



Orlando Petchak...




Meu caro amigo não sei por onde anda e em que canto da eternidade está tua presença, além claro, da que percebemos em nós mesmos ao lembrarmos de ti.
O discreto de ti foi revestido de uma imponência natural, era possível respeitá-lo em acordes distintos do violão, do cavaquinho e do bandolim, e da relação que isso tinha com a sua vida, porque uma alma que ama a arte e a fez continuidade de si próprio exala a ternura, e em arrepios de emoção, espalhou em todos a alegria, e vê-lo com a reverencia destinada aos virtuoses entre os humanos foi apenas um carinho retribuído a tudo que você conseguiu passar, e deixar e que temos o dever de legar à posteridade pelo tudo que fostes.
Não, nunca fui um amante especialmente do samba, sou eclético em minhas preferências musicais, mas sou e sempre serei um fã da musica de Orlando Petchak, esta que me fez parar e admirar onde quer que fosse poucas vezes me lembrou o fato de que eu era seu primo, embora no Bar do Maluf, no Bar do Colaço ou no restaurante Sucata, e onde eu o visse, ele fizesse sempre questão de acenar ao ver-me, este carinho eu nunca vou esquecer. O discreto ser humano que foste humilde em seu valor como um mestre das cordas, jamais ofuscou o brilho de um colega, pois sabia a seu tempo recolher-se para deixar sobressair outro valor, que com ele dividia a atenção de quem os visse, especialmente no grupo Sambão, que marcou época em Irati com componentes de extraordinário valor artistico e é com saudade que relembro aqui.
Particularmente a referência que faço de Orlandinho, é de um ser humano que deixou uma grande lacuna, o vazio de sua ausência é comparável a de qualquer amigo, no tocante ao ser humano, mas por ser um primo eu diria que o valor familiar sempre será medido pelos exemplos deixados a seus entes, o que vai pela eternidade, ficará aqui em forma de saudade, algo que não só os acordes de um violão em uma tarde de Irati, mas a sentida ausência, levará às lágrimas a quem quer que o tenha conhecido e admirado.
Pois vê-lo atrás dos grandes óculos dedilhando sua arte sob os olhos admirados de espectadores, já foi um presente de Deus, e ter sido um amigo em sua existência, sempre nos remeterá a um longo e afetivo abraço, e de um emocionado... Até um dia, meu primo onde quer que você esteja.

Edilson de Souza (Malgaxe)

Amigos...


Há um olhar brilhante como uma estrela no céu de cada um, este brilho que pousa em nossa alma, e nos momentos de alegria ou de tristeza, se mantém intacto, solidamente firme, religiosamente presente, tem a nobre alcunha de amigo...
Mas não tem um nome em toda a eternidade que o possa definir, um anjo talvez, mas se assim fosse, de onde viriam as palavras e atos que nos alentam a vida, é, portanto mais que um anjo, é seu representante em nosso caminho, é o amor que se descortina quando nos abate o negro da tempestade turvando a visão... É nestas horas que um perfume adocicado e celestial, trás uma luz para tudo clarear e se preciso se junta a nós, ajoelha-se conosco para reunir os pedaços para tudo recomeçar, e é a partir de seu calor que a vida retoma o seu sentido e nossa fragmentada alma solidifica-se como que abraçada pela divina providência na forma humana e amiga.
Quando nos faltarem a força e o discernimento sobre tudo, quando nos chegar o entardecer da vida, talvez revirando entre velhos retratos possamos reconhecer em amarelados momentos nós, abraçados a antigos amigos, e se são verdadeiros amigos que por circunstâncias da vida se afastaram, podem crer que lembram-se de nós, sentem também a nossa falta, e nos dirigirão sempre uma prece, serão sempre nossos amigos na terra ou na eternidade.
E se encarregará de suprir de semelhantes a nós para alentar nossa vida, o nosso grande amigo Jesus de Nazaré, que se rodeou de humanos, para revigorar-se nos momentos de aflição e fé, e para demonstrar a infinita bondade para com os humanos, depois de indescritível sofrimento, foi em espírito aos braços de seu pai, mas como ele mesmo disse, jamais esqueceu aqueles a quem amou na terra, seus amigos, humanos como eu e você.
Malgaxe