Quem diria que nossos olhos um dia veriam tais imagens?
Não nos prometiam os velhos tempos que o nossos pequenos olhos veriam tais
cores, um mundo visto das alturas, a geografia decomposta em traços que
sepultariam para sempre a visão
interiorana e pacata da nossa querida Irati.
Quem não lembra o verde escuro de um vivo
surpreendente, enclausurando a beleza
antiga de nossa cidadela, nascida para ser singular à nossa alma, e singela ao
nosso coração?
Como eram belos os tons cinza daquelas ruas de pedra, do
branco casario baixo, onde ecoavam apitos de fábricas nas madrugadas, e a vida
seguia nos raios das bicicletas surgindo na surreal neblina, e desaparecendo
nas manhãs...
Sim, a vida era mais vida, a beleza que nos surpreendia
a cada amanhecer, era um todo onde podíamos olhar e dizer: Este é o orgulho de
nossas vidas...
Hoje, é como uma primavera que floresce nos resquícios
de um inverno rigoroso, sem lhe esconder os decompostos do velho jardim mal
cuidado...
Víamos antes ao levantar os olhos, o verde de nossas
serras, e a beleza imponente da Senhora das Graças, na humildade da nossa visão
sabíamos serem verdadeiras e sob a proteção de Deus tais imagens...
Podem não ser falso o que a atualidade nos apresenta,
mas ao olharmos esta imagem, e voltarmos o olhar para o teatro em "meia
viagem", depois baixarmos os olhos para as calçadas despedaçadas,e
lembrarmos dos tantos esboços de sonhos, se deteriorando e abandonados a beira
da serra, nos perguntamos, será isso verdadeiro?
Será que nos tomam como crianças inocentes em bando
saindo pelos corredores do Grupo Escolar Francisco Vieira de Araújo, e nos
param, oferecendo balas de banana compradas no Stein ou no Gavlak, para que nos
comportemos como bons e sonhadores meninos, e não os incomodem em suas
maquinações "adultas"?
Ah! Alto da Glória, de que adianta a beleza estonteante
lhe colorindo a face, se o perfume que lhe vem dos pés não são de flores...?
Se a aparente tranqüilidade de teus velhos recantos
escondem a agonia lenta, estirando braços daninhos em todas as direções?
Ah! Irati somos pequenos como sempre, mas tão grandes
como nossos sonhos, quando pensamos o melhor pra ti!
Era de terra o nosso chão, mas era tão verdadeiro que
chega a dar saudade...
Edílson de Souza
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