Nos
tempos em que a vida corria devagar, quando o longe era simplesmente 3 ou 4
quadras de casa, tínhamos a "estratégica" como um lugar longe, porque
ao avistarmos ela do Alto da Glória, a gente via também o Grupo Francisco
Vieira de Araújo, com o fundo verde escuro do Mato do Viana, e aos nossos
pequenos olhos, estes lugares eram muito longe, como tudo convém aos olhos de
uma criança. E só os fomos conhecer pessoalmente quando ingressamos no primeiro
ano primário, assustados e surpresos, conhecemos
o desconhecido, embora sua imagem fosse familiar há muitos anos...
A
"estratégica", como chamávamos aquele trecho, era o prolongamento da
Benjamin Constant, que ia da esquina do Bar do Gavlak e seguia estrada afora
rumo a Nhapindazal e em diante...
Era
de cascalho, em tempos secos uma poeira medonha, tapava a visão quando chegavam
a Irati os caminhoneiros em seus "possantes" anunciando em buzinas de
corneta a ar a sua chegada aos familiares e amigos, e espalhando no ar uma
poeira infernal...
Detalhe,
todos conheciam os caminhoneiros pela som da buzina do caminhão...
Ao
lado esquerdo de quem chegava pela Benjamin, um tapete verde chamado
"batatal" era o cartão de visitas de Irati...
Irati
que recebia os visitantes com um olho d`água, cuja água cristalina, resistiu há
muitas gerações a ação destruidora do progresso, que sepultou este presente de
Deus sobre um "jazigo" de concreto e esquecimento...Ali na mesma
esquina em que a Mecânica Industrial montou sentinela na entrada de Irati...
Costumo
dizer que esta rua deveria ser dedicada a boemia iratiense, pois tinha cada
dono de bar uma clientela fiel, vistas principalmente nas noites, sábados a
tarde e domingos de manhã em festivos e assíduos encontros. Na mesma quadra, o
Stein, o Gavlak,o Jucelim, mais adiante o Bar do Paulo Diniz, faziam as honras
da casa, com ovo, pepino e rolmops,
torresminho
e o “infaltável” chaxixo (perdoem minha
licença poética), ainda pinga com várias misturas, que divertiu muito, mas que
infelizmente levou muitos, mais cedo, do convívio de seus amigos e
familiares ...
Havia
claro espaço para a garotada nestes espaços, para os doces, para o dolé e o
sorvete...
Ainda
nesta quadra da Boemia, tínhamos o digamos "aviário" do novelo, onde
comprávamos frango vivo, lembro ainda de uma passarela de madeira que levava ao
fundo da residência onde estavam os frangos em galinheiros...
Entre
o "Aviário" e o Stein, existia um terreno baldio, e ao fundo um
enfileirado de casas, talvez resquícios ainda do Bairro da Menemar, e ao lado destas,
uma passagem em carreiro para a "antiga" rodoviária, que ia ainda ser
construída, portanto eu vi o nascimento, glória e morte do velho terminal...
O
que chamava atenção da criançada é que ali, numa naquelas casas morava uma
senhora com problemas mentais que era parente da minha avó Angélica Souza, e
que chamávamos de "Ervira Louca", e que todos morriam de medo dela...
Do Bar
do Stein até o Posto Atlantic, as residências foram construídas em muros de
pedra por causa do elevado do terreno, e
tinham uma certa aristocracia, com suas palmeiras imponentes e sua
arquitetura detalhada, que me causavam sempre admiração , não tanto pela
distancia social que nos separava, mas pela beleza que emanavam...
Na
quadra final tínhamos a Elétrica Winkler, a LBA, a Borracharia do Chuchene, e a
bela casa do poeta Virgilio Moreira, com um belo jardim digno de destaque na
paisagem que se via...
A
Benjamin Constant tinha em suas pedras a beleza antiga de Irati, embora o tempo
tenha modificado sua geografia é também por ela, como por todas as outras, que
buscamos resquícios que justifiquem àqueles que não conheceram este tempo, o
nosso amor por Irati
Edilson
Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário