segunda-feira, 23 de março de 2015

Quanta Saudade... (20)




Há coisas que não dependem de lugar certo e nem de hora certa para descortinar na nossa memória sua presença, assim, as lembranças são fruto não da temporal e sequencial exposição no tempo de nossa vida, mas do acaso plantado nos nossos dias como surpresas que na hora dos acontecimentos causou tristeza ou alegria e que no futuro chamar-se-á saudade...
Jamais poderíamos reservar um beijo apaixonado no escurinho do Cine Theatro Central, uma oração emocionada no silencio da Matriz Nossa Senhora da luz, um olhar triste sobre o ataúde de um amigo de toda a vida, que desce numa manhã de neblina ao campo Santo do Alto da Coronel Pires, não, como o céu que nunca nos parece com o mesmo azul maravilhoso, e por vezes até nuvens negras nos apresenta, as lembranças que nos vem, daqui e dali, emocionando nosso coração comovendo nossa alma, vem como algo intocável gravado para dar sentido a nossa vida, alegria ou tristeza ao nosso coração, sem tempo certo e nem hora preconcebida.
Talvez seja por isso que na nostalgia das lembranças, o ser humano fique tão desprotegido do controle das emoções, pois é como o flash de uma maquina fotográfica, que a partir do instante que é disparado, ressurge em nós o momento que será lembrado pela eternidade...
Então nos vemos andando nos trilhos em frente a velha estação, nos caminhos da Mata dos Gomes, nas arquibancadas dos nossos estádios, nas carteiras antigas de nossas escolas, tomando água no olhinho da Benjamin Constant, na escadinha que leva aos braços da Nossa Santa do Morro, no colo de nossos pais, de mãos dadas com o nosso primeiro amor...
Quem não gostaria de sentir o carinho antigo de nossos avôs, de reunir-se com os amigos no calor do Ginásio de esportes e ouvir um Mima, um Jacopetti, nas tardes de nossa juventude, de caminhar pelas ruas de pedras de nossa Pérola do Sul, de ver novamente o que já não existe mais, voltar como marinheiros que voltam ao cais...?
A saudade é uma redoma translúcida que guarda momentos, que viaja no tempo, e nos trás delimitadas em seus espaços únicos, as emoções para serem degustadas como um velho vinho, como o primeiro beijo, como a sensação inigualável de que as lembranças não têm hora e nem lugar, pois ficam guardadas em desordem no baú da eternidade!

Edilson Souza

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