Quanta Saudade...(4)

Quantas lágrimas haveriam numa saudade?
Onde deverá buscar a alma, as lembranças para confortar a vida?
Talvez no silêncio da mais linda declaração de amor, sepultada em algum
sótão da existência antes que se fizesse comoção em algum olhar, antes
que o romantismo de suas linhas pudesse guardar
congelado no tempo um beijo apaixonado, quem sabe assim no que não
existiu, ou quem sabe naquilo tudo que foi dito, que perfuma sorrisos...
Serão sempre composições surreais as aquarelas que serviram de pano de
fundo para a nossa infância, porque se banharam da inocência ao
perpetuarem-se num único legado chamado saudade, e não como lenitivo de
alguma dor, mas como um descanso das asas da fantasia num tempo em que
fomos felizes.
Quem atrás de uma janela em dia de chuva, não se viu menino, brincando
em valetas de enxurrada, não teve o sincero desejo de regressar no
tempo, e faz de suas saudades o porto seguro antes que o paraíso lhe
fuja das mãos em forma de fria realidade?
Estas respostas, rabiscadas em preto e branco tem sons de ave Maria, de
cantigas de ninar, da voz do silencio nas despedidas, da voz materna
que chama o filho, do sussurro muitas vezes embargado de um filho,
chamando o pai...
Cheira a pão fresco nas tardes de sábado, as flores de todas as
primaveras, a alegria que enfeita a vida, e a tristeza que mistifica a
eternidade...
A saudade é uma viagem solitária aos confins de cada um, onde estão e
nunca morrerão as lendas da nossa infância, os sonhos da existência,
onde viveu cada amigo, e cada página que nos apresentou ao nosso amor...
A saudade não é o amarelado dos dias, nem o romantismo de uma época
antiga, ela é o ontem de cada um e se causa alguma nostalgia, é porque
definitivamente, o sonho da humanidade é a de ser eternamente jovem, e
embora isso, no exercício da recordação, praticando a saudade, o ser humano compartilha este momento com o amor de Deus.
Edilson Souza
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